segunda-feira, 19 de julho de 2010

Ambientalistas afirmam que peixes contaminados com mercúrio são preocupação mundial

18/02/2009
Enquanto os governos mundiais se reúnem na próxima semana para discutir um tratado juridicamente vinculante sobre o mercúrio, grupos ambientalistas de todo o mundo divulgaram um novo relatório chamando a atenção para os perigos mundiais à saúde humana causados pelo mercúrio em peixes e mamíferos marinhos que se alimentam de peixes. O estudo, divulgado pelo Grupo Internacional de Trabalho Mercúrio Zero (1), indica que os impactos à saúde pelo metilmercúrio em peixes e mamíferos marinhos que se alimentam de peixes são substanciais e demandam uma resposta efetiva dos governos e das Nações Unidas.
“A contaminação por mercúrio em peixes e mamíferos marinhos que se alimentam de peixes é uma preocupação mundial relacionada à saúde pública,” disse Michael Bender, co-autor do relatório e membro do Grupo de Trabalho Mercúrio Zero. “Nosso estudo com peixes testados em diferentes localidades em todo o mundo mostra que os níveis internacionais de exposição amplamente aceitos para o metilmercúrio estão acima, em geral muito acima, em cada um dos países e áreas estudadas.”
De acordo com o relatório, “Mercúrio em Peixes: Uma Urgente Ameaça Mundial à Saúde”, o risco é maior para as populações cujo consumo per capita é alto, e nas áreas onde a poluição aumentou o conteúdo médio de mercúrio nos peixes. Mas os perigos do metilmercúrio também existem quando o consumo per capita e os níveis médios de mercúrio em peixes são comparativamente baixos. Em culturas nas quais os mamíferos marinhos que se alimentam de peixes são parte da dieta tradicional, o mercúrio encontrado nesses animais pode se somar substancialmente à exposição total da dieta.

Sobre o Resumo Executivo do Relatório e as recomendações das ONGs:

Este relatório apresenta novos dados de testes sobre níveis de mercúrio em peixes em três áreas do mundo: o estado indiano de Bengala Ocidental, a área metropolitana de Manila, nas Filipinas, e em seis países membros da União Européia. O estudo também examina alguns dados publicados sobre metilmercúrio em baleias-piloto e outros mamíferos marinhos consumidos pelas populações do Ártico, nas Ilhas Faroe, e entre o povo Inuit no norte do Canadá. Usando aqueles dados, informações sobre o consumo de peixes, e algumas pressuposições razoáveis, o relatório examina uma variedade de cenários de exposição plausíveis para cada região e compara as estimativas de exposição do consumidor, gerando assim três padrões estabelecidos de referência para exposição aceitável ao metilmercúrio.
A situação na Índia é a mais severa; naquele caso, a média de consumo de peixe per capita é alta, e os níveis de mercúrio encontrados nos peixes localmente disponíveis são freqüentemente elevados (25 das 56 variedades testadas continham mais de 0.5 mg/kg de mercúrio). Esta combinação produz doses acima das recomendações de exposição para um consumidor médio que consome uma quantidade média do peixe médio disponível na maior parte das localidades testadas. A combinação produz doses ainda mais excessivas para aqueles que consomem quantidades acima da média de peixes, ou peixes com níveis de mercúrio acima da média; e doses muito altas para crianças, que em geral consomem porções de alimentos iguais as dos adultos, mas cujo peso corporal é menor, e a dosagem, portanto, é mais alta.
Nas Filipinas, onde o consumo per capita de peixes é também muito alto, e nos seis países da União Européia, onde o consumo de peixes varia entre países, mas algumas vezes é também alto, existem duas claras preocupações com os riscos. Adultos e crianças que consomem quantidades acima da média de peixes podem estar expostos a níveis excessivos de mercúrio, mesmo se o nível médio de mercúrio em seu peixe consumido for relativamente modesto; e pessoas que preferem consumir espécies predatórias que acumulam mercúrio, tal como peixe-espada, cação e atum, podem estar sendo expostas facilmente a doses excessivas de mercúrio se consumirem esses peixes regularmente.
O consumo de carne de baleia-piloto é uma fonte dominante e excessiva de exposição ao metilmercúrio para os habitantes das Ilhas Faroe, e os mamíferos do alto da cadeia alimentar marinha, especialmente a baleia beluga, podem contribuir substancialmente para a exposição ao metilmercúrio entre o povo Inuit.
O relatório também examina uma análise recente de casos reportados de envenenamento clínico por metilmercúrio nos Estados Unidos, em pessoas que consomem relativamente grandes quantidades de peixes com alta concentração de mercúrio, como atum, peixe-espada, lúcio e robalo. Conclui-se que é provável que ocorram efeitos similares à saúde em cada um dos países estudados por este relatório, ao menos entre pessoas que consomem maiores quantidades de peixes, e/ou que tenham maiores preferências por variedades de peixes com alto teor de mercúrio.
Ainda mais importante do que o envenenamento por metilmercúrio obviamente clínico, e mais provável de ocorrer, é o risco dos efeitos neurotóxicos no desenvolvimento de bebês cujas mães na gravidez consumiram peixes com alto teor de mercúrio, ou que se alimentaram de grandes quantidades de peixe com teor moderado de mercúrio. Efeitos neurotóxicos sub-clínicos, mas funcionalmente significativos, podem ocorrer em adultos e crianças que consomem metilmercúrio acima dos níveis de referência, e as pesquisas sugerem que a exposição ao metilmercúrio também aumenta os riscos de doenças cardiovasculares. O relatório apresenta recomendações gerais e específicas para se obter melhores dados, apoiar avaliações aperfeiçoadas de risco, selecionar medidas de gestão de risco, e melhorar a comunicação de risco relacionada aos problemas com metilmercúrio.
As recomendações do relatório se aplicam tanto para os países cobertos por esse estudo como para outras áreas do mundo, onde o problema necessita igualmente de atenção, e são as seguintes:
1. O Conselho de Administração do Programa das Nações Unidas de Meio Ambiente (PNUMA) deve estabelecer um Comitê Intergovernamental de Negociação (INC) para a finalidade de negociar um instrumento juridicamente vinculante e independente sobre mercúrio, em sua próxima reunião em Nairobi em fevereiro.
2. No período intermediário antes que esse instrumento se torne efetivo, o relatório recomenda ao Conselho Administrativo do PNUMA a tomar as seguintes medidas de ação:
a) Os governos e os órgãos internacionais relacionados com mercúrio e saúde (tais como OMS e/ou PNUMA) devem trabalhar juntos para desenvolver uma estratégia ampla e representativa de amostragem de peixes, conduzida por países chave e/ou conduzida regionalmente, de forma a caracterizar as concentrações de mercúrio em ampla gama de espécies de peixes.
b) São urgentemente necessárias medidas para controlar as emissões de mercúrio das usinas termoelétricas a carvão, processamento de minérios, fabricação de cimento e outras fontes, e substituir gradualmente os usos intencionais de mercúrio em produtos e processos. É necessária uma ação internacional colaborativa para alcançaressas metas.
c) O PNUMA e os governos membros devem fornecer assistência para capacitação conforme seja necessário e trabalhar com as partes interessadas afetadas para desenvolver programas efetivos de comunicação de risco, informar os consumidores em todos os países sobre quais peixes contêm níveis significativos de mercúrio, e quais contêm níveis mais baixos e podem ser consumidos mais freqüentemente com segurança.
d) Um enfoque particular deve ser dado aos avisos aos consumidores que apreciam peixeespada, atum e cação de que essas variedades (e outros peixes com alta concentração de mercúrio, se forem determinados como importantes pelas investigações recomendadas acima) não devem ser consumidas com tanta freqüência ou que devem até mesmo ser retiradas da dieta.

Nenhum comentário:

Postar um comentário